terça-feira, 26 de abril de 2011

Anima

Era só mais uma tarde, como sempre. Uma tarde chuvosa, o céu completamente esbranquiçado, o sol mal se agüentava diante das nuvens carregadas. E lá estava eu, em meus devaneios, caminhando por cinzas e rachaduras, cheias de insônia e abandono. Com aquele ar de luxúria e suor, que quase sempre me pegava tapando o nariz, só para não me lembrar do desprezo que sentia com aquele cheiro, me lembrando de como as coisas nem sempre foram assim. Mas havia algo que me fazia feliz, a cada passo que eu tomava. Que me deixava sereno, lavando meus pensamentos de ódio e angústia de lado, como se por alguns momentos eu fosse abduzido, pelos meus pensamentos. Sentia-me leve, meu corpo estava em um piloto automático, dando passos para algum lugar, que nem eu sabia onde estava indo. Já não tinha mais noções de tempo, de espaço, meus olhos estavam fechados, e, naquele momento, minha mente estava aberta. A chuva, ah, a chuva. Levando meus pensamentos em gotas infinitas, transformando aquele aroma fétido em orquídeas, e amor. As cinzas em ouro, e as rachaduras em pontes, pontes que eu sabia que podia atravessar. Talvez eu seja o único a apreciar a natureza de tal forma, será que alguém, em alguma parte do mundo, consegue por algum momento sair do próprio corpo? Transformar a realidade, com um simples pensamento?
Não, não faço idéia, não tenho idéia de absolutamente nada. Comecei a ver, não com os olhos, mas com a pele. As gotas geladas da chuva, eu sentia, eu amava. Tudo tinha certa sensualidade, melodia e amor. O barulho sereno das gotas batendo no chão acalmava uma cidade de cães raivosos. Os carros já não me incomodavam tanto, afinal, eu estava no momento da ascensão da minha alma. Será que alguém tinha notado aquilo tudo? Estavam me achando completamente sem sanidade mental? Eu não ligava, nem muito menos notava a existência de mais alguém, não no meu lugar.
Me encontrei encantado, um perfume de fruta, talvez morango, ou pêra, se misturava ao da chuva, me hipnotizava, me cativava, me atraía. E então veio o choque, literalmente. Enquanto estava voando, me esqueci que ainda tinha um corpo, não habitado. Senti uma dor, no meio da minha testa, como se alguém me golpeasse com uma pedra bem grande, eu abri meus olhos, vi uma figura. Estava meio distorcida, meus olhos estavam embaçados por causa de tal choque. Eu acho que acabei de simular, em meus próprios conceitos, uma experiência de morte, não de dor, ou de ser ceifado pela morte. Mas sim, o que vem depois, de tanta dor, de tanta mortalidade. Mas de alguma maneira, eu ainda estou vivo. "Como?" Eu me pergunto. "Por que ainda estou vivo? Isso tudo foi uma ilusão? Eu ainda estou vivo? Ou estou morto?". Chego a essa conclusão, não estou vivo, nem morto, assim que eu nasci já comecei a morrer. Somos eternos, toda dor, é uma ilusão, e raramente nos lembramos do que veio antes desse momento tão precioso.
E então o perfume ficou, cada vez mais forte à medida que a figura se levantou, soltando um leve "Ai". E estendendo a mão para me levantar.
-Você está bem? Desculpe-me, eu ando meio desastrada esses dias, você não se machucou certo?
Era simplesmente, a voz mais suave, charmosa, ao mesmo tempo em que era atrevida e fina, que eu já ouvi.
Permaneci calado, apenas apoiei minha mão para me levantar, ignorando a ajuda daquele tal espectro.
Abri meus olhos, o que eu vi? Eu vi a vida. Era uma jovem, de cabelos castanhos, meio alaranjados e amarelados, talvez pintados nas pontas. Tinha os olhos escuros como fumaça, mas quando o sol clareava seu rosto, pareciam ser da cor de mel. Acho que fiquei mais ou menos uns 5 minutos olhando fixamente pra ela, e ela fazendo o mesmo. Sem nenhuma palavra, apenas examinando, cada detalhe, analisando o momento, depois de tal surpresa.
Quando o vento, com o cheiro da chuva soprou em seus cabelos, o perfume foi ficando mais forte, e eu fechava os olhos, sentindo ele me levando para outros lugares.
E ela? Ela sorria, parecia não se importar, sendo que, qualquer um em sã consciência já teria fugido de mim. Não sei exatamente o que experimentei se primeiramente foi dor, e agora, estou em meu paraíso. Mas sei que alguma coisa nela me chamou a atenção, alguma coisa nela era diferente. Sem dizer uma palavra, eu estendi minha mão, olhando fixamente para os olhos dela, ela apertou forte, sem hesitar, sua pele macia e perfumada, parecia estar me chamando, só me falta dizer que estou me ascendendo de novo. A chuva sempre me fez ver as coisas de maneiras diferentes, até mesmo malucas. Mas eu não esperava sentir algo tão belo, e existente, quanto aquele perfume.
Ela me disse o seu nome, o qual não faço a mínima idéia de lembrar, estava muito ocupado tentando descobrir se ela era real, não parecia, era perfeito demais. Às vezes o perfeito me dava medo, mas naquela hora, me deixava atraído.
Eu não consigo me lembrar, de nada, nada que ela me disse, apenas de como ela era. Passamos horas conversando, mas não me lembro de ter dito uma palavra sequer, eu devia ter escrito tudo, mas eu esqueci minha caneta. Não existe um momento em que eu não me lembre daquele anjo temporário, quando vejo as nuvens carregadas, me pego falando sozinho, se ela simplesmente não vai descer do céu para me ver de novo. Mesmo que nossas testas batam novamente, a cada passo, ainda acho que consigo encontrá-la, no meio dessa mesma bagunça, daquele mesmo cheiro desagradável, que ela transformara em rosas e pêras, e morangos com leite e mel.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Introdução ?


Queira eu saber por onde começar, por "Porque criei esse blog?" ou "Quem sou eu?" ou apenas dizer um olá, boa tarde, seja bem vindo. Mas, não, prefiro dar minhas razões, será algo difícil, mas procuro dar o meu melhor. Nem eu mesmo sei quem sou não inteiramente. E é isso que, até mesmo aqui tento descobrir. Eu poderia começar me descrevendo, eu acho, como alguém que andou por constantes mudanças, uma metamorfose sem fim, como preferir, nem todas elas foram transformações tão boas, mas aconteceram. Passando por todas elas, e ainda por muitas outras. Contar a minha história, mesmo com meus "poucos" anos de vida, acho que até pelo tempo de uma vida eu não acabaria de escrever sobre os meus 13/14 anos, sim, foi um período de transição, um período que eu conheci muita coisas, muita coisa da qual eu já tinha me esquecido, muita coisa da qual eu já não era mais capaz de sentir, até acontecer algo inacreditável, talvez meus próximos textos sejam indiretas, sobre o que exatamente aconteceu, mas por aqui, vou me descrever um pouco. Me chamo João Pedro, e tenho um grande coração (Não é algo muito comum de se dizer tão abertamente, é?)
Adoro ajudar as pessoas, ver tudo e todos com um sorriso no rosto, aprendi que sorrir é um remédio para a alma, em uma de minhas transformações, quando encontrei minha felicidade. Preocupo-me com os outros, com a natureza, com o mundo, apesar de que sempre quero ir mais além. Não paro de me perguntar, de me perguntar sobre tudo, sobre o que sou o que me tornei como isso tudo aconteceu pra mim, como as coisas funcionam, porque funcionam, tantas perguntas com respostas óbvias, ou até mesmo, complicadas, dependendo do seu ponto de vista.
Sou extremamente sensível, frágil, pode-se dizer que choro por tudo, mas por causas que me afetam, que me tocam bastante. Sou alguém que é o que sente, que deixa os seus sentimentos tomarem suas decisões, algo que me leva a não desistir, mas também, me leva a sentir tudo de maneira excessiva. Amo demais, choro demais, critico demais, e amo demais tudo isso.
Fascinado pela música, pela ciência, pela psicologia, astrologia, isso tudo, de certa forma, envolve um universo. O dos sentidos, das estrelas, dos planetas, da vida, da paz, do amor, da mente. Não tem como não se sentir em certa perda de peso, como se fosse voar, ao compreender nosso universo de tantas formas diferentes. E é isso, que estou determinado a fazer, a me conhecer, a conhecer o universo, de todas as maneiras possíveis, e, além disso, formar isso tudo em uma unidade, uma conexão. Através de meus textos, de meus sentimentos, procuro a minha única forma de unir corpo e alma.